terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

A REVOLUÇÃO DOS JASMINS CONTRA AUTOCRACIAS

A REVOLUÇÃO DOS JASMINS CONTRA AS AUTOCRACIAS


O mundo árabe se manifesta...


A Revolução dos Jasmins teve início na Tunísia, governada pelo ditador Zine El Abidine Ben Ali por 23 anos, e serviu de exemplo para os países árabes. Teve início com a morte de um jovem e logo se alastrou e em algumas semanas se estendeu como um rastrilho de pólvora para vários países árabes como Iêmen e, sobretudo, o Egito vivem hoje, revoltas com características revolucionárias. O cientista político, filósofo e presidente do Instituto Magreb-Europa, Sami Naiir, aponta como 1º fator alimentador da revolta o fato de que o medo mudou de campo. É o poder que enfrenta agora um povo que perdeu o medo.

A cultura das democracias ocidentais sempre tratou os países árabes como incapazes de assumir um destino democrático. Este é o discurso depreciativo do capitalismo liderado pelos EUA e UE (União Européia) através da OCDE (Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico), que apóiam regimes ditatoriais para manter a estabilidade nos países árabes a fim de evitar emigrações e garantir as fontes de recursos petrolíferos. Os EUA e UE estão em sintonia com o discurso dos ditadores árabes que sempre repetiram: “Nossos povos carecem de maturidade política e cultural e, por conseguinte, não podem ter acesso à democracia”. Tunísia, Argélia, Mauritânia, Iêmen, e Egito não só desmentem estes argumentos como também abalam desde a raiz as ditaduras que governam esses países há décadas com mão de ferro e privilégios exorbitantes. Os protagonistas desta onda de aspirações democráticas são a classe média, os setores menos favorecidos e os jovens, que se organizam por meio da internet. Demonstram que não compactuam com autocracias longevas respaldadas historicamente pelo ocidente.

Segundo Sami Naiir, pelo menos no séc. XX, a América Latina foi o laboratório dos povos. A Revolução Russa não pode ser entendida sem a Revolução Mexicana. Os latino-americanos inventaram todas as formas de lutas possíveis e imagináveis. Na América Latina se experimentaram as guerrilhas, as lutas políticas, os despotismos e as ditaduras. A partir dos anos 80 e 90 as ditaduras caíram em quase todos os países da América Latina. Esse movimento contra as ditaduras se estendeu para os países do Leste Europeu a partir de 1989 com a queda do Muro de Berlim. Agora, esse movimento de fundo que se iniciou na América Latina está atingindo todos os países da orla árabe do Mediterrâneo e, mesmo além, na Península Arábica, como está acontecendo no Iêmen.
O problema é que, ao contrário ao que ocorreu na América Latina, o movimento que está acontecendo nos países árabes não tem direção, programa e organização. É espontâneo. Para Sami Naiir, trata-se de um movimento que quer destruir a idéia de que estas sociedades estão condenadas a viver com o perigo extremista e fundamentalista, por um lado, e por outro, com a ditadura, que seria uma suposta garantia necessária contra esse perigo fundamentalista. Agora, está se demonstrando que o problema é muito mais complexo e que estes países não querem experimentar nem o islamismo e nem o fundamentalismo, mas sim que desejam a democracia. Porém, as situações são peculiares. Exemplo: a Tunísia é um país com tradição laica(*) com uma elite muito forte e camadas sociais muito unidas; no Iêmen impera um sistema tribal baseado na dominação despótica de um clã. A única coisa similar entre os dois países é o grau de dominação e a forma de controle apoiada na polícia e no exército.
(*) O laicismo é uma doutrina filosófica que defende e promove a separação do Estado das igrejas e comunidades religiosas, assim como a neutralidade do Estado em matéria religiosa. Não deve ser confundida com o ateísmo de Estado. O Estado laico tem que se assumir neutro, equidistante das diversas opções social e culturalmente possíveis e, designadamente, incompetente em todas a matérias que relevam da crença e/ou da convicção – sempre individual e particular – dos indivíduos que compõem a sociedade que o estabelece e legitima, reconhecendo-lhes e assegurando-lhes, contudo e em toda a sua extensão, o direito de livre e autonomamente se organizarem e afirmarem associativamente pelas diferentes afinidades identitárias que entre si entendam fazer relevar social e culturalmente.

O caso do Egito é muito particular. O Egito provavelmente é o mais antigo Estado de Direito do mundo. O Estado de Direito moderno foi criado por Mohamed Ali (Paxá), no final do séc. XVIII e no início do séc. XIX, ou seja, antes que os europeus soubessem o que era isso. Mas esse Estado foi destroçado pelos ingleses no Séc. XIX.

No Egito o exército desempenha um papel central liderado pelo ditador/ presidente Hosni Mubarack há 43 anos. Quem está sendo chamado a subsituí-lo é seu filho Gamal Mubarack que é um liberal não bem visto pelas forças armadas. Gamal Mubarack não inspira democracia e é temido pela possibilidade de o mesmo implantar um neoliberalismo, que encarna na verdade o domínio pelo governo e elites burocráticas. É o caso da China atual com uma ditadura neocumunista déspota com a prática de um liberalismo selvagem.

Os opositores revolucionários egípcios não querem uma república hereditária onde o pai ditador Hosni Mubarack nomeie seu filho Gamal Mubarack como futuro ditador liberal. Os opositores buscam a democratização da sociedade. Para eles, o filho é como seu pai. Não o querem porque já tem o exemplo da Síria onde o filho substituiu o pai e terminou instaurando um sistema mais ou menos liberal, mas com a mesma ditadura.

Não se sabe se esses movimentos continuarão avançando ou se param por aí. O certo é que as nações do mundo estão percebendo que os poderes podem mudar quando os povos querem mudar suas condições de vida e ousam enfrentar o poder para escolher o seu próprio destino. Querem mudança de regime, o fim da corrupção e da ditadura.

O que está ocorrendo é também uma conseqüência da globalização. A globalização é má socialmente,mas tem algo bom, que é a globalização dos valores democráticos nas sociedades civis.

Fonte: www.planetaosasco.com...

15 comentários:

  1. Espero que as manifestações não parem por aí... Para que possam ocorrer mudanças e esses países se desenvolvam economicamente.Beijos, Maria Laura

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  2. Adorei o texto, ótimas as colocações Sami Naiir...
    Estou na torcida pelo povo árabe, para que, através das suas manifestações, consigam a tão esperada mudança do regime político.
    Cláudia
    (:

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  3. Vamos lá povo Árabe!Desejo muita sorte para vocês nessa busca pela Democracia.Jamais desistam, e espero que as manifestações não parem.

    =D
    Arthur Munchen

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  4. Através das manifestações espero que o povo Árabe consiga acabar com esse regime, mesmo não sendo em nosso país é uma questão à ser analisada!Pelo fato de ocorrer uma transformação radical na economia, política, social e até mesmo cultural! Não desistam!

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  5. Concordo com meus colégas! Também acho que o povo árabe está no rumo certo, e devem acabar com o regime dessa ditadura, e não deixar com que Hosni Mubarack no caso do Egito passa sua posse para seu filho, pois acredito que isso não resolverá o problema desse país. Acredito nesse povo!
    Darlei Bamberg =)

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  6. Lucas Boufleuer, nº 18.

    Essas manifestações levam a uma democracia, mas vai demorar anos para os problemas se resolverem, não há um planejamento nessas revoltas, o que vai ocasionar uma crise política maior ainda na região. Ainda assim, crises são superadas, e creio ser pior viver todos os dias sobre os olhares de um governo sem limites ou restrições. Esse povo tem que ser aplaudido de pé, pelo movimento ideológico, quebrando tabus no mundo todo. Espero que as consequências negativas destas revoltas desenfreadas e sem planejamentos, sejam muito menores, do que os ganhos políticos da região.

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  7. O mais interessante é que a partir da internet, o povo dos países autocratas do oriente médio tiveram contato com a cultura ocidental e se revoltaram contra o governo ditadorial almejando a liberdade!

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  8. Concordo com meus colegas, porem possa demora um longo tempo até serem resolvidos todos os problemas. Mas nao deixo de admirar, esse povo árabe por sua garra e determinação em querer conquistar a tão espera liberdade. Fico na torcida!
    Beijos;*

    Júlia ;)

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  9. Acho que esses países acabaram desencadeando um tipo de revolução; a que os povos árabes tinham dentro de si para se libertarem desse regime político.E também acho que devem continuar lutando para conseguir o que realmente querem para se tornarem países com uma democracia no poder.

    Renan Wendt, M2

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  10. Na minha opinião, os povos desses países devem lutar por todos seus direitos, e não podem desistir antes de conseguir. Se eu estivesse no lugar de algum deles, eu lutaria com todas as forças para conseguir alcançar a democracia para todo o povo. Como a crise está gerando uma guerra civil, os problemas estão longe de terminar, mas eles não podem parar, pois ficando na ditadura, os problemas serão ainda maiores.
    Heitor ;d

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  11. Espero que os protestos continuem, de forma pacífica e que essas mudanças para a democracia não ocorram de fora violenta. Que bom que a internet acabou servindo como um "ponto em comum" para todos os manifestantes, pois eles podiam se comunicar, sem chamar muito a atenção. O texto foi muito bom, é dificil encontrarmos na internet, algo tão completo, que traga informações que realmente sejam verdadeiras.
    Laura Machado

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  12. Concordo com meus colegas, porem possa demorar um longo tempo até serem resolvidos todos os problemas. Mas não deixo de admirar, esse povo árabe por sua garra e determinação em querer conquistar a tão espera liberdade. Fico na torcida!
    Beijos;*

    Júlia ;)

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  13. Creio que toda essa revolta é algo espelhado nas revoluções da América Latina de anos atrás. Com a globalização os árabes simplesmente perceberam o quão bom é ter liberdade de expressão quase total, entre muitos outros fatores. Espero que os rebeldes consigam o que querem e coloquem uma democracia no poder, pois um governo de todos é e sempre será o melhor.

    Bruno Bracht , nº 5

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  14. A maioria dos 'paises' envolvidos na revolucao contra autocracias conseguiu sua 'liberdade'.

    A Libia, que nao se livrou das ditaduras, esta com exercitos da ONU, mas o seu ditador esta resistindo.

    Vamos veer aonde isso vai parar, tomara que seja com um final FELIZ para o povo, claro.

    THIARLES PRILL, 25

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  15. O povo árabe perdeu o medo e esse foi o principal passo para conseguir se livra da ditadura. Acho importante lembrar que os principais motivos para o início das revoluções muçulmanas foram: pobreza, aumento dos alimento básicos (fome), desemprego e a informação (através da intertenet e outros meios de comunicação tiveram acesso a política de outros países, conheceram a democracia).Acho também que a mobilização (protesto na rua, sem medo de mostrar a cara, sem se acomodar, atitude) por parte de todos foi um ponto muito importante para que as revoluções obtesse sucesso.
    Fico na torcida pelos povos que ainda não conseguiram sua "liberdade".

    BejOo Larissa (=

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